Introdução
A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS é a língua natural das pessoas surdas. Esta língua tem seu reconhecimento legal no estado de Santa Catarina pela lei nº 11.869, de 06 de setembro de 2001 e a nível federal tem seu reconhecimento pela lei nº 10.436. A lei federal foi posteriormente regulamentada pelo decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005 onde preconiza meios de difusão da língua de sinais no âmbito publico.
Um destes meios de promoção dessa língua é oferecer nas universidades nos mais diversos cursos a disciplina de LIBRAS. Para tanto, a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) por meio do Centro de Educação a Distância (CEAD) vem proporcionar este aprendizado aos alunos ouvintes universitários através de disciplinas obrigatórias no currículo das licenciaturas, disciplinas isoladas e optativas a serem desenvolvidas nos mais diversos cursos, sob a responsabilidade de professores surdos.
Além da disciplina de LIBRAS há nestes mesmos moldes o curso de extensão com o
tema LIBRAS: conhecer a cultura surda. Ambos, a disciplina e o curso, foram
organizados de forma a favorecer o aprendizado gradual da LIBRAS, com vistas à
formação de interlocutores bilíngues conscientes das questões históricas, culturais e
identitárias das comunidades surdas no mundo e no âmbito nacional.
A disciplina e o curso de estão possibilitam às pessoas ouvintes seu aprendizado e
uso corrente nas relações entre surdos e ouvintes, principalmente nas relações com as
comunidades, escolares, familiares e profissionais, bem como a formação continuada em
LIBRAS. O tema comunidade e cultura surda são explanados em todas as aulas em
consonâncias com os demais conteúdos programáticos, por isso no decorrer deste artigo
discutiremos estas questões.
Fundamentação teórica
A LIBRAS é a língua de sinais utilizada pelos surdos que vivem no Brasil onde
existem comunidades surdas. As autoras Strobel e Fernandes (1997, pág. 25) afirmam
que:
“A modalidade gestual-visual espacial pela qual a LIBRAS é produzida
e percebida pelos surdos leva, muitas vezes, as pessoas a pensarem que
todos os sinais são o desenho no ar referente ao que representam. É
claro que, por decorrência de sua natureza linguística, a realização de
um sinal pode ser motivada pelas características do dado da realidade a
que se refere, mas isso não é uma regra. Portanto, necessita de um
aprendizado sistemático, preferencialmente ensinada por surdos”.
As comunidades surdas estão espalhadas pelo país, e como o Brasil é muito
grande e diversificado, as pessoas possuem diferenças regionais em relação a hábitos
alimentares, vestuários e situação socioeconômica, entre outras. Estes fatores geraram
também algumas variações lingüísticas regionais.
As escolas de surdos mesmo sem uma proposta bilíngüe (língua portuguesa e
língua de sinais) propiciam o encontro do surdo com outro surdo, favorecendo que as
crianças, jovens e adultos possam adquirir e usar a LIBRAS. Em muitas escolas de surdos
há vários professores que já sabem ou estão aprendendo com professores surdos à língua
de sinais, além de oferecer cursos para os pais destas crianças.
Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim
de se torná-lo acessível e habitável ajustando-os com as suas percepções visuais, que
contribuem para a definição das identidades surdas e das “almas” das comunidades
surdas. (STROBEL, 2008, p.30). Isto significa que abrange a língua, as idéias, as crenças,
os costumes e os hábitos de povo surdo. Descreve a pesquisadora surda:
“[...] As identidades surdas são construídas dentro das representações
possíveis da cultura surda, elas moldam-se de acordo com maior ou
menor receptividade cultural assumida pelo sujeito. E dentro dessa
receptividade cultural, também surge aquela luta política ou
consciência oposicional pela qual o individuo representa a si mesmo, se
defende da homogeneização, dos aspectos que o tornam corpo menos
habitável, da sensação de invalidez, de inclusão entre os deficientes, de
menos valia social”. (PERLIN, 2004, p. 77-78).
Continuando com os mesmos autores, Padden e Humphires (2000, p. 5)
estabeleceram uma diferença entre cultura e comunidade:
[...] uma cultura é um conjunto de comportamentos apreendidos de um
grupo de pessoas que possuem sua própria língua, valores, regras de
comportamento e tradições; uma comunidade é um sistema social geral,
no qual um grupo de pessoas vivem juntas, compartilham metas
comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outras.
(STROBEL, 2008, p. 30 - 31).
Então entendermos que a comunidade surda de fato não é só de sujeitos surdos, há
também sujeitos ouvintes – membros de família, intérpretes, professores, amigos e outros
– que participam e compartilham os mesmos interesses em comuns em uma determinada
localização. (STROBEL, 2008, p. 31)
Este artigo apresenta de forma sucinta a oferta do curso LIBRAS: Conhecer a
cultura surda como uma atividade de extensão que vem atender a uma premissa legal,
política e ética, pois atende tanto a comunidade interna quanto a externa da Universidade.
Assim, para compreendermos um pouco mais da forma como esse curso é
oferecido seguem seus objetivos:
Divulgar e ensinar a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.
Possibilitar aos ouvintes a aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais –
LIBRAS, como uma segunda língua.
Divulgar a história da comunidade surda e de sua cultura no Brasil e no mundo.
Trabalhar a expressão facial/corporal dentro da LIBRAS.
Estimular o uso da Língua Brasileira de Sinais, junto a comunidade em geral,
visando a quebra de preconceitos.
Oportunizar o contato com os usuários da língua em diferentes momentos de
interação.
Metodologia
A metodologia utilizada nas aulas é: aulas dialogadas em LIBRAS, exposição ao
vocabulário em sinais, exercícios, utilização de técnicas teatrais e outras manifestações
visuais e corporais que caracterizam a cultura surda. Sendo 60% à distância pelo
ambiente de aprendizagem moodle e 40% presencial. A avaliação tem como base a
participação do cursistas nos encontros presenciais e a distância. O cursista que tiver
participação igual ou superior a 75% e realizar as atividades propostas é certificado. A
avaliação dos cursistas sobre o referido curso é feito por meio de formulário de avaliação
oferecido pelo coordenador.
Considerações Finais
Este curso de LIBRAS vem ao encontro da crescente necessidade de aquisição da
LIBRAS por parte da sociedade em geral e dos acadêmicos da UDESC. Desta forma, a
união entre ensino e extensão é explicita. Proporemos uma pesquisa sobre a concepção da
inclusão nesta Universidade e, os alunos deste curso, serão também sujeitos deste
processo. Pontos positivos que vemos como resultado são funcionários, técnicos e
docentes, realizando o curso e proporcionando uma comunicação entre surdos e
comunidade acadêmica e, também, futuros professores estão fazendo esse curso ou a
disciplina de LIBRAS na graduação e terão uma consciência mais crítica e um bom
conhecimento dessa língua para quando tiverem contato com um aluno surdo.
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